sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Caminhos cruzados. - Capítulo 1

Era um dia normal. Eu estava com minhas roupas velhas, como de costume, e resolvi ir de skate até a sorveteria. Sim, eu estava sozinha. Para falar a verdade sempre gostei da solidão. Não da solidão em si, mas do fato de estar só, acho poético, acho digno, acho interessante, misterioso.
Estava remando no meu skate, quando ouço alguém gritando:
- Ei cuidado!
E nisso, só senti algo me atingindo. Eu fui para um lado, meu celular para o outro e meu skate tinha ido parar longe. Em cima de mim estava uma bicicleta, e um menino caído logo ao meu lado. Olhei para ele com cara feia.
- Meu Deus! Você é cego? O que diabos foi isso? - perguntei estérica.
- Desculpe, desculpe, desculpe mesmo, foi sem querer. - ele disse.
- Sem querer? Como podê ser sem querer? Olha o tamanho desta calçada! - respondi-o gritando.
- Desculpa ta? Eu me distraí, e quando fui ver você estava na minha frente. - ele disse na defensiva.
- Ah, claro, agora a culpa é minha! Eu que apareci do nada só para poder cair! - disse irônica.
- Mas a culpa não foi só minha, se você não estivesse distraída também, teria desviado. - ele disse.
Dei uma risadinha irônica, e olhei nos seus olhos.
- Que cara de pau você. E pra começo de conversa VOCÊ invadiu meu caminho, não eu invadi o seu!
- Eu não cruzei seu caminho! Você que anda por ai como se fosse dona da calçada!
- Desculpa senhor correto, mas se você soubesse andar RETO não teria me atropelado!
- Eu ando RETO! E eu já pedi desculpas por isso.
- Ok, senhor reto, correto, que anda em zigue-zague, eu não aceito suas desculpas!
- Mas o que? - ele disse rindo.
- Você foi um estúpido, a culpa é sua, estou com raiva e não aceito suas desculpas, você que morra atropelado por um carro enquanto estiver ando em zigue-zague no meio da rua, ou quem sabe EU mesma te atropelo!
- Mas que marrenta você! - ele disse bravo.
Peguei meu celular e conferi os danos, absolutamente nenhum. Gostava dele por conta disso, além de ser moderno era duro na queda. Acho que já caiu tanto que se acostumou a como não se ferir. Mas sorte do garoto que meu celular estava inteiro, se não eu faria ele comprar outro, ou roubaria sua bicicleta, o que eu estivesse afim.
Guardei meu celular no bolso e fui direto pegar meu skate.
Uma parte eu tinha achado, mas a outra, não estava por aqui.
Uma parte?
Uma parte!
Meu skate tinha se quebrado no meio, assim como meu coração.
Eu tinha ralado muito para conseguir dinheiro para compra-lo e agora ele estava destruído! Ele era o meu único plano de fuga, a minha única desculpa para me desligar um pouquinho do mundo e entrar em um universo paralelo, e agora, esse meu portal estava destruído, em dois pedaços, repartido bem ao meio. Meu mundo tinha perdido a cor, e eu estava com vontade de chorar. Uma lágrima escorreu pelo meu rosto, até que eu me lembrei por quê meu skate estava destruído.
O sangue subiu, a vontade de chorar havia passado, e a única coisa que eu sentia era raiva! Muita raiva! Estava com vontade de pegar o meu skate e tacar na cabeça daquele infeliz!
- Ah Meu Deus! - disse devagar, me virando para ele.
Ele arregalou os olhos e fez cara de quem se desculpava.
- OLHA O QUE VOCÊ FEZ! SEU INFELIZ! VOCÊ DESTRUIU MINHA VIDA! VOCÊ DESTRUIU MEU SKATE! VOCÊ TEM IDEIA DO QUE ISSO SIGNIFICA? VOCÊ TEM IDEIA DO QUANTO EU RALEI PARA TÊ-LO? - eu gritava, estava perdendo o controle.
Ele segurava a outra parte do meu skate. Eu arranquei da mão do garoto, e tentei conserta-lo, mas já era. Ele tinha morrido, meu skate estava morto. Comecei a chorar desesperadamente. Não sabia o que podia fazer nem o que ia fazer. Eu só ajoelhei na calçada, enquanto lágrimas caiam sobre as duas metades do meu skate.
- Sinto muito, sinto muito mesmo. - ele disse.
- Sente muito? - eu perguntei calma. - Você não faz a miníma ideia do que fez. - olhei para ele. -Você não faz a miníma ideia do que aconteceu, e tenho certeza que não dá a miníma se meu skate está destroçado ou não.
- Não era minha intenção.
- Eu sei que não. - eu o interrompi. - Nunca é a intenção de ninguém! Mas quer saber? Foda-se, meu skate está destruído, e já era, não há nada que eu ou você possa fazer. Agora será só eu. Só eu e meu skate destroçado. - e recomecei a chorar.
- Sinto muito. - ele disse me abraçando. - Eu posso comprar outro.
Afastei-o de mim, agora com raiva.
- Comprar outro? Não! Não cara, você não entende! Não é questão do SKATE, mas a questão é o quanto eu batalhei para consegui-lo. A questão aqui é o emprego que eu arrumei, é todas as horas extras, são todas as festas que eu perdi, são todas as roupas que eu deixei de comprar, todos os luxos que eu não me permiti, só para conseguir a droga do dinheiro para compra-lo. A questão é essa. A questão é que eu fiz tudo isso por nada, para depois um idiota metido a besta quebra-lo no meio, e ainda me oferecer para comprar outro!
Ele ficou sem palavras, apenas me olhava confuso.
- E quer saber? Felicidade não se compra e outro skate para mim também não. - e nisso me levantei e saí andando, quer dizer, mancando, porque tinha um machucado muito feio na minha perna.
Atravessei a rua, e nisso ele me gritou.
- Ei espere. - disse vindo atrás de mim. - Espere! - ele me alcançou e segurou em meu braço.
- O que você quer? Já não fez estragos suficientes em mim? - perguntei puxando meu braço, mas ele forte demais.
- Sabe, acho que começamos com o pé esquerdo. - ele disse me soltando e oferendo-me a mão. - Sinto muito pelo que houve com você e com seu skate, desculpe se fui rude, além do mais tentando comprar outro. - ele franziu o cenho. - Realmente sinto muito. E a propósito me chamo Noah Calliem.
Olhei bem para a mão dele e depois para ser rosto e por fim disse:
- Bom saber seu nome, assim posso te denunciar por TENTATIVA DE HOMICÍDIO! - eu gritei, e sai andando, dando as costas para o menino metido de bicicleta, o tal de Noah.
Pensei no significado de seu nome.
Noah: um nome ligado a religião, pode-se dizer até religioso, alguns dos significados são conforto, descanso, ou até movimento, vida longa ou aquele que vive muito. Mas pode-se acreditar que também signifique trêmulo ou cambaleante.
Achei que os dois últimos significados faziam mais jus a aquele Noah.

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